sábado, 11 de abril de 2015

Flavio Gikovate
“O Amor que se vai”
Café filosófico Cpfl cultura
São Paulo, 30 de setem
bro de 2009
“Uma das ideias que venho defendendo a mais de 30 anos é a de que sexo e amor não são partes de um mesmo fenômeno, e sim, partes de dois fenômenos, dois mecanismos completamente diferentes, muitas vezes em antagonismo.
O amor, eu defino como sendo o sentimento que a gente tem por aquela pessoa que é muito especifica e muito especial, cuja presença provoca em nós a sensação de paz, aconchego e harmonia. Então amor é, parece ter haver com a primeira experiência de existência de todos nós, ou seja, com a experiência uterina. O amor corresponde a um remédio para a dor do desamparo que nasce no momento em que nós nascemos. Ou seja, vivemos num útero nos primeiros momentos da nossa existência, de lá saímos depois de meses de aconchego, aconchego que é o único registro cerebral, e lá, dentro do útero com a mãe o bebe vive uma situação paradisíaca, digamos assim, usando a metáfora bíblica, e existe depois disso, a expulsão do paraíso, que corresponderia ao nosso momento de big-bang, o momento do nascimento. A partir dessa expulsão do paraíso começa a surgir as dores, os desconfortos e o esta subjetivo correspondente ao desamparo, a uma sensação de desproteção, de insegurança de medo que é exatamente a manifestação visível no rosto de qualquer criança que nasce. A criança nasce com um ar de apavorado com toda razão, ou seja, há uma mudança para a pior, a condição uterina é uma condição maravilhosa, é o paraíso, e o nascimento é a expulsão do paraíso.”
“O amor é parte de um prazer que o Schopenhauer chamava de prazer negativo, ou seja, é uma remédio para a sensação desagradável de desamparo, ou seja, é o prazer que deriva do fim da dor do desamparo, o aconchego é o remédio para o desamparo, por isso é interpessoal, é paz e é um prazer negativo.”

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