sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Olá.
bom, eu estive lendo a apresentação do blog e ri muito. Afinal, já terminei a faculdade e ele (o blog) ficou aqui adormecido....tadinho... Mas hoje (05/08/2017) resolvi que ele vai viver. E vai frutificar. Afinal são muitas idéias, muito aprendizado, muitas experiências, vivências e histórias para compartilhar. Vamos construir uma nova história, um novo caminho aqui neste blog e espero que você, leitor, seja muito bem vindo, fique a vontade e possa absorver coisas boas para sua vida. Namastê.

domingo, 12 de abril de 2015

As intervenções didáticas na alfabetização inicial


Beatriz Gouveia (novaescola@fvc.org.br)
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Beatriz Gouveia. Foto: Victor Malta
Beatriz Gouveia Coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá, professora da pós-graduação em alfabetização do ISE Vera Cruz, assessora em Educação e selecionadora do Prêmio Educador Nota 10
A publicação da obra Psicogênese da Língua Escrita (300 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-703-3444, 74 reais), das argentinas Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, no Brasil em 1999, foi um marco revolucionário no campo da Alfabetização. O livro provocou uma mudança paradigmática em relação ao processo de aprendizagem da língua escrita e à forma de conceber a escrita. Nele, o aluno é entendido como um sujeito intelectualmente ativo, que formula hipóteses para compreender o que a escrita representa e aprende por meio de suas ações.
Entender como as crianças aprendem e reconceitualizar o objeto de conhecimento (nesse caso, a língua escrita) foi um passo fundamental para os pequenos assumirem o protagonismo no processo de aprendizagem. Outro passo importante foi compreender o papel dos professores no novo cenário. O que cabe a ele se a criança é quem constrói o conhecimento sobre a língua escrita? Entender que o educador não é um mero observador ou espectador do processo de aprendizagem dos alunos foi estruturante para novas reflexões didáticas. Por intermédio do docente é que a língua escrita se torna um objeto de conhecimento. O desafio do profissional é planejar situações didáticas que coloquem a língua na sua função comunicativa e que os alunos possam atribuir mais sentido às tarefas propostas.
De acordo com LERNER (2002, p.105), o conhecimento didático da Alfabetização é o resultado do estudo sistemático das interações produzidas entre o professor, o aluno e o objeto de conhecimento; é produto da análise das relações entre o ensino e a aprendizagem de cada conteúdo específico; é elaborado por meio da investigação do funcionamento das situações didáticas.
Hoje sabemos que, para contribuirmos para a qualidade na aprendizagem das crianças, é importante nos debruçarmos sobre as interações produzidas entre professor, aluno e objeto de conhecimento. Quer dizer conhecer o processo de aprendizagem dos alunos sobre a língua escrita e também conhecer a língua escrita e as práticas sociais de leitura e escrita. E mais: conhecer e compreender, cada vez mais, as melhores condições didáticas que incidem sobre a aprendizagem.
Para isso, uma das grandes contribuições da última década foram as publicações dos resultados de investigações didáticas na área da Alfabetização. As análises e teorizações sobre as interações produzidas entre professor, aluno e objeto de conhecimento em diferentes situações de ensino resultaram no conhecimento de novas condições didáticas. Isto é, as investigações foram tornando observáveis as articulações entre o modo de ser do aprendiz, as estruturas epistemológicas das linguagens e as ações docentes necessárias para promover boas situações de reflexão e aprendizagem das crianças. Estas ações aparecem, por exemplo, na seleção de materiais, nas consignas, na forma de agrupar a turma, nas perguntas propostas durante as atividades, na decisão de tornar coletiva a dúvida de um aluno, na decisão de informar ou se calar e na maneira de organizar o tempo didático. Lerner (2002, p.43) ressalta: É necessário realizar investigações didáticas que permitam estudar e validar as situações de aprendizagem que propomos, aperfeiçoar as intervenções de ensino, apresentar problemas novos que só se fazem presentes na sala de aula.
Para a escola orientar situações de ensino cada vez mais eficientes, é importante refletir sobre as condições que melhor possibilitam a assimilação e coordenação progressiva de informações que levam à obtenção de significado. De acordo com Molinari (2000), nestas situações, o professor intervém claramente com a intenção de favorecer o processo de coordenação de informações entre aquilo que as crianças sabem, os dados fornecidos pelo texto e as informações proporcionadas pelo contexto no qual ele está inserido.
A seguir, destacaremos a importância do planejamento e de algumas intervenções didáticas.
Continue lendo a reportagem:
Planejamento para antecipar e refletir

Planejar é uma prática profissional da escrita, é um ato contínuo da profissão docente. Ao fazer isso, declaramos as intencionalidades e antecipamos as melhores condições didáticas, incluindo todas as possibilidades de intervenção. Isto é, antecipamos as opções de agrupamento, os materiais oferecidos, as consignas, os problemas ou as perguntas que podem ser propostas durante a atividade e as formas de socialização dos resultados. Em resumo, com essa prática, o professor tem a chance de refletir sobre o que quer ensinar, o que a turma pode aprender e como fazer para ensinar e o aluno aprender.
É no planejamento que o docente avalia o apoio que deve oferecer ao grupo. Para tanto, é fundamental conhecer os saberes dos alunos a fim de ajustar os desafios às necessidades de aprendizagem de cada um e oferecer o melhor apoio para que todos avancem. Sabemos que a diversidade de saberes é um imperativo da sala de aula e, por isso, as intervenções devem ser formuladas para atender diferentes momentos da aprendizagem.
Um dos primeiros desafios no planejamento é assegurar que as propostas didáticas estejam articuladas às práticas sociais e comunicativas da língua para que os estudantes sejam, cada vez mais e com maior competência, praticantes da cultura escrita. Esse desafio implica, muitas vezes, em redefinir o conteúdo, pois se queremos formar usuários da leitura e da escrita, precisamos ensinar as práticas de leitura e escrita.
Para inserir as práticas de leitura e escrita no tempo didático, devem ser consideradas diferentes modalidades organizativas. Segundo Lerner (2002, p.87), trata-se de uma reflexão qualitativa do uso do tempo didático: Quando se opta por apresentar os objetos de estudo em toda sua complexidade e por reconhecer que a aprendizagem progride através de sucessivas reorganizações do conhecimento, o problema da distribuição do tempo deixa de ser simplesmente quantitativo: não se trata somente de aumentar o tempo ou de reduzir os conteúdos, trata-se de produzir uma mudança qualitativa na utilização do tempo didático. Para concretizar essa mudança, parece necessário - além de se atrever a romper com a correspondência linear entre parcelas de conhecimento e parcelas de tempo - cumprir, pelo menos, com duas condições: manejar com flexibilidade a duração das situações didáticas e tornar possível a retomada dos próprios conteúdos em diferentes oportunidades e a partir de perspectivas diversas. Criar essas condições requer pôr em ação diferentes modalidades organizativas: projetos, atividades habituais, sequências de situações e atividades independentes coexistem e se articulam ao longo do ano escolar.
As modalidades organizativas organizam o como ensinar com o que ensinar. Se pretendemos trabalhar os comportamentos leitores e escritores, por exemplo, os projetos que colocam a função comunicativa da língua dentro da escola são a melhor modalidade. Caso o objetivo seja explorar a familiaridade com o universo dos textos, as melhores são as atividades permanentes, que propõem regularidade na interação com os diferentes usos dos textos escritos. Se o foco é fazer uma análise e reflexão sobre os conteúdos da língua, as mais propícias são as sequências didáticas ou as atividades de sistematização dentro dos projetos ou das próprias sequências.
No processo de alfabetização inicial, os professores têm o desafio de planejar atividades que integrem a reflexão sobre o sistema de escrita e as práticas mediadas pela escrita. São atitudes que se opõem ao contexto em que as atividades de alfabetização são trabalhadas de forma mecânica e sem sentido. O outro desafio é planejar propostas que apresentem bons problemas, de forma que os alunos tenham de acionar os seus conhecimentos disponíveis para aprender novos elementos presentes na cultura escrita.

Intervenções didáticas

Agrupar os alunos é uma ação intencional e criteriosamente planejada pelo professor, considerando o conhecimento de cada um sobre o que se pretende ensinar e a clareza do objetivo da atividade. Por exemplo, se o objetivo é agrupar os alunos em duplas para criar um espaço de reflexão sobre o funcionamento do sistema de escrita, é necessário reunir as crianças com saberes próximos (e não iguais), para que se possa criar um espaço real de cooperação no processo da escrita. Nesta situação, agrupar estudantes com saberes muito distantes (um com escrita pré-silábica e outro com escrita alfabética, por exemplo) é improdutivo, pois as necessidades de aprendizagem e de reflexão sobre o funcionamento do sistema de escrita são muito diferentes. Isso não quer dizer que, em outras propostas, com outros objetivos, esses dois perfis não possam ser agrupados. O intercâmbio entre os estudantes, em diferentes agrupamentos, contribui para criar zonas de desenvolvimento proximal, isto é, um pode potencializar um conhecimento do outro que está em formação. Outra vantagem dos agrupamentos é a necessidade, muitas vezes colocada pela atividade, de um colega justificar as escolhas feitas para o outro. Isto é, se for uma escrita em dupla e o combinado for de cada um pôr uma letra e dizer o que escreveu, os dois precisam sustentar suas escolhas.

Também existem intervenções baseadas nas ações do professor para promover novos campos de reflexão sobre a leitura e a escrita. Elas devem ser planejadas, considerando os saberes das crianças, a natureza da atividade, e o que precisam para avançar. Uma das mais importantes quando se trata do processo de reflexão sobre a escrita: pedir para a turma ler o que escreveu, isto é, que interprete os escritos. Há um primeiro espaço de reflexão quando as crianças escrevem, pois decidem quais e quantas letras precisam e a ordem em que devem colocá-las. O outro espaço é quando elas interpretam o que escreveram, justificando as escolhas feitas.

A discussão coletiva, depois das escritas individuais, em duplas ou outros agrupamentos, é outro tipo de intervenção interessante para o professor colocar em cena algum aspecto ou conteúdo relacionado à situação de leitura ou escrita. A ideia é potencializar a reflexão dos alunos e fazer circular o maior número de informações estruturantes para subsidiar novas reflexões. Por exemplo, discutir escritas da mesma palavra produzidas por diferentes crianças, pedir para explicarem suas escolhas, perguntar quais são as fontes de informação disponíveis na sala que podem ajudar a pensar nas escritas, entre outros. O objetivo desta intervenção não é validar o saber de uma criança. É propor uma situação para que todos se sintam convocados a participar e, principalmente, reconheçam a própria potência para contribuir, dar sugestões, compartilhar seus saberes e aprender com o grupo. É mais um espaço didático para propor problemas e discussões e orientar o uso de boas fontes de informação.
Resumo
Estudar e refletir sobre como a criança aprende a ler e escrever é um imperativo do bom trabalho de alfabetização inicial. De posse dessas informações e munido de um bom planejamento, que prevê quais intervenções didáticas pôr em cena, o docente estimula o aluno a formular hipóteses, colocá-las em jogo, argumentar suas escolhas e questionar as dos colegas. A especialista destaca a validade dos projetos didáticos, dos agrupamentos e da discussão coletiva.
Referências bibliográficas
  • MOLINARI, C. A intervenção do professor na alfabetização inicial. In: MIRTA, C.; MOLINARI, C.; SIRO, A. Enseñar y aprender a leer: jardín de infantes y primer ciclo de la educación básica. Buenos Aires: Novedades Educativas, 2000.
  • LERNER, D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Artmed, 2002.
Mundo Complexo

TEXTO DENIS R. BURGIERMAN | ILUSTRAÇÃO MARCIO MORENO | DESIGN JORGE OLIVEIRA | ADAPTAÇÃO BEATRIZ ACCIOLY | PROGRAMAÇÃO: CAH FELIX

Tenho quase certeza de que você sabe do que eu estou falando. Uma certa angústia, uma sensação de que tudo está escorregando do controle. E também uma pitada de desânimo com a ordem geral do mundo, como se não adiantasse fazer nada, porque qualquer esforço vai se perder numa série de consequências inesperadas, e pode até acabar tendo efeito contrário ao pretendido. Caceta, de onde vem isso?
A vida está complicada demais. É muita senha para decorar, muita lei para seguir, muita conta para pagar. É muito trânsito. Muito carro na rua, disputando espaço com caminhão de lixo, e é também muito lixo na calçada à espera de alguém que o recolha. É muito risco, muito crime, muita insegurança.
É muito partido político, e nenhum deles parece minimamente interessado nas coisas que são importantes para você. É muita opção de trabalho, mais do que em qualquer momento da história, e ao mesmo tempo é muito difícil encontrar um trabalho que faça sentido. É muita doença estranha de que eu nunca antes tinha ouvido falar, e muita gente morrendo disso. É muita indústria tradicional, de ares eternos, desmoronando de um segundo para o outro. É muita gente saindo da escola sem saber ler nem fazer conta. É muito problema, e cada um parece impossível de resolver. Estou surtando? Só eu estou sentindo isso?

É complexo, mano

Por outro lado, o mundo está cheio de possibilidades, inclusive a de acessar informação ao toque de um dedo. Dei um google, encontrei um texto chamado Complexity Rising (“O aumento da complexidade”), do físico americano Yaneer Bar-Yam, fundador do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra.
Arrá, está lá: o mundo está mesmo ficando mais complexo, não é paranoia minha. O texto explica o que é complexidade: é o número de coisas conectadas umas às outras. Quanto mais partes um sistema tem, e quanto mais ligações existem entre essas partes, mais complexo ele é. Um exemplo de coisa complexa é o recheio do seu crânio: 86 bilhões de neurônios, cada um deles conectado a vários outros, um emaranhado quase infinito de possíveis caminhos a percorrer.
Segundo Bar-Yam, a sociedade humana vem constantemente aumentando de complexidade há milênios. No início, quando vovô era caçador-coletor e dava rolezinho na savana africana, vivíamos em grupos de no máximo umas dezenas de pessoas, e cada grupo era basicamente isolado dos outros. A complexidade da sociedade era mínima. Diante disso, nossas estruturas de controle eram bem simples. No geral, um chefe mandando e todo o resto da turma obedecendo – um general e os soldados, um chefe e a ralé.
Mas a moleza não durou. Primeiro surgiram impérios vastos (Egito, Mesopotâmia, China, Índia) com maior diversidade de necessidades e papéis sociais (escribas, escultores, cozinheiros, prostitutas). A complexidade foi aumentando.
Diante disso, já não funcionava mais o sistema simples de controle direto. Segundo Bar-Yam, existe uma lei universal e sagrada dos sistemas complexos: “a complexidade de um sistema realizando uma tarefa deve ser tão grande quanto a complexidade da tarefa”. Como um faraó é menos complexo do que a sociedade egípcia, não seria possível para o faraó regular e controlar todos os aspectos dessa sociedade. Por isso, foram surgindo hierarquias intermediárias: o mestre de obras para organizar a peãozada, o capitão de navio para mandar na marujada, a madame para cuidar das garotas.
E a humanidade seguiu ficando cada vez mais complexa, mais intrincada, mais especializada. E, para dar conta disso, as hierarquias foram ganhando mais e mais níveis – diretor, vice-diretor, gerente, subgerente, auxiliar, terceiro-auxiliar do subgerente do vice-diretor. Só assim para cada chefe lidar com a complexidade do que está abaixo dele. Até chegar a hoje, quando vivemos na sociedade mais complexa de todos os tempos. Só que aí as hierarquias pararam de funcionar – colapsaram. O mundo ficou tão complexo que ficou impossível para um chefe dominar a complexidade abaixo dele.
Quando Bar-Yam tornou-se especialista em sistemas complexos, na década de 1980, esse não era um ramo glamouroso da ciência. Os físicos preferiam áreas ultraespecializadas e achavam o estudo de grandes sistemas uma coisa meio esotérica. Ele insistiu e sua dedicação valeu a pena. No mundo complexo de hoje, Bar-Yam e seu instituto estão atraindo um monte de clientes importantes.
O exército americano procurou-o para entender como lutar contra inimigos ligados em rede, misturados à população civil em cidades labirínticas – situação bem mais complexa do que as guerras de antigamente. Bar-Yam também tem trabalhado como consultor na reforma dos sistemas de saúde e educação dos Estados Unidos, na estratégia do Banco Mundial para ajuda humanitária e na concepção de grandes projetos de engenharia. Não está faltando trabalho.
Parecia o sujeito certo para resolver meu problema. Escrevi um e-mail para ele, perguntando se há “algumas regras simples que ensinem a lidar com complexidade?” (editores de revistas adoram fórmulas simples). Bar-Yam já chegou detonando: “não há regras simples para lidar com o que é complexo”. Mas, se eu quisesse aprender os princípios gerais da gestão da complexidade, eu poderia comprar o livro dele, Making Things Work (“Fazendo as coisas funcionarem”, sem versão em português).
Comprei. O livro é ótimo. A tese central é que todo sistema complexo tem duas características: a escala e a complexidade. Para fazer um sistema complexo funcionar, é preciso ter uma estratégia para a escala e outra para a complexidade.
Exemplo: o corpo humano tem dois sistemas de proteção, um para escala, outro para complexidade. O sistema neuromuscular (cérebro comandando nervos que acionam músculos que movem ossos) serve para escala, enquanto o sistema imunológico (glóbulos brancos independentes agindo cada um por conta própria) lida com complexidade. O neuromuscular nos defende de ameaças grandes – surras, atropelamentos, ladrões. O imunológico lida com inimigos minúsculos – bactérias, vírus, fungos. Por terem funções diferentes, os dois sistemas adotam estratégias diferentes.
No neuromuscular, a lógica é hierárquica, centralizada e linear – o cérebro manda, nervos e músculos obedecem, todos juntos, orquestrados, somando esforços numa mesma direção, para gerar uma ação em grande escala (um soco, por exemplo). Já no sistema imunológico, cada célula age com liberdade e se comunica com as outras, o que gera milhões de ações a cada segundo, uma diferente da outra, cada uma delas microscópica, em pequena escala – e o resultado final é uma imensa complexidade, com o corpo protegido de uma quantidade quase infinita de possíveis ameaças.
Para viver saudável é preciso ter os dois sistemas: neuromuscular e imunológico. Um sem o outro não adianta. Não há nada que um bíceps forte possa fazer para matar uma bactéria, assim como glóbulos brancos sarados são inúteis numa briga. É assim com todo sistema complexo: precisamos de algo hierárquico para lidar com a escala das coisas, e de algo conectado em rede para a complexidade.
O problema do mundo de hoje, e a razão para o desconforto descrito no começo deste texto, é que nossa sociedade está toda ajustada para lidar com escala, mas é absolutamente incompetente na gestão da complexidade. Estamos combatendo infecção a tapa. Tudo por causa de uma invenção que está completando 100 anos.
Mundo Complexo

O século da escala

Foi talvez a invenção mais transformadora da era contemporânea, mas ninguém registrou o nome do inventor, nem a data do “eureca”. Na verdade, ninguém nem mesmo deu um nome ao invento. Só cerca de um ano depois, uma revista técnica de engenharia fez o batismo: linha de montagem.
Segundo as pesquisas do historiador David Nye em seu livro America’s Assembly Line (“A linha de montagem da América”, sem versão em português), a invenção da linha de montagem ocorreu em algum momento de novembro de 1913. A dificuldade de estabelecer uma data precisa vem do fato de que a invenção foi gradual, coletiva e aconteceu quase espontaneamente. Ela não foi uma ideia espocando do nada na mente de algum cientista brilhante – foi uma resposta social a uma necessidade premente.
A necessidade era aumentar a produção de carros. Em 1900, só 5 mil americanos tinham carro – apenas 13 anos depois, já eram mais de 1 milhão. Centenas de fábricas trabalhavam sem parar para atender a essa explosão da demanda, mas ainda assim as fábricas recebiam mais pedidos do que eram capazes de atender. Isso gerou uma corrida entre as fábricas por ganhos de produtividade.
Quem ganhou essa corrida foi a empresa de um mecânico chamado Henry Ford. No esforço de poupar segundos e assim fazer mais carros por dia, os mecânicos e engenheiros da Ford foram aprimorando seu processo. Começaram a padronizar milimetricamente cada peça do carro, para acelerar os encaixes. Cronometraram cada movimento dos mecânicos, para descobrir o melhor jeito de fazer cada tarefa. E, a cereja do bolo: inverteram a lógica da fábrica. Em vez de grupos de mecânicos andando de uma carcaça a outra para montar os carros, eram os carros que se moviam num trilho, puxados por cordas, no meio de um corredor de mecânicos. Cada mecânico realizava uma tarefa curta e repetitiva, de maneira que nenhum deles tinha mais o domínio do processo todo. Resultado: a fábrica começou a despejar nas ruas um carro novo a cada minuto.
Em 1910, a Ford tinha feito 19 mil carros. Em 1911, 34 mil. Em 1912, 76 mil. Em dezembro de 1913, a linha de montagem começou a operar. Em 1914, a empresa montou 264.972 carros – todos idênticos. Um aumento de produtividade descomunal, que possibilitou a Henry Ford dobrar o salário de seus operários e ao mesmo tempo baixar o preço dos carros, transformando operários em clientes.
O sucesso foi tão grande que, nas décadas que se seguiram, a lógica da linha de montagem se espalhou por toda a indústria, em todo o mundo. Bicicletas, geladeiras, telefones, televisores passaram a ser montados em esteiras rolantes ou trilhos, com peças sempre iguais montadas por trabalhadores superespecializados. Até mesmo a comida se encaixou nesse esquema: nossos alimentos também passaram a ser padronizados e montados industrialmente com acréscimos químicos de nutrientes. Prédios passaram a ser produzidos com peças idênticas e tarefas cronometradas, o que inaugurou a era dos arranha-céus nos anos 30.
Nossa vida está cheia de linhas de montagem – o carrinho do supermercado passando entre corredores de produtos, o automóvel trafegando em rodovias rodeadas de lojas, as filas de carros nos drive-thrus do mundo. Ao longo do último século, a lógica da linha de montagem chegou a todas as esferas da vida.
A educação, por exemplo. "As escolas hoje são organizadas como fábricas", disse o educador britânico Ken Robinson numa palestra no TED. "Educamos crianças em lotes", disse, referindo-se ao hábito de separar os alunos em séries. Saúde, governo, cidades, cultura, ciência. Praticamente tudo nessa alvorada do século 21 parece seguir o mesmo esquema: divisão do trabalho numa sequência linear de tarefas especializadas, montagem gradual das peças, ganhos constantes de eficácia, produtos padronizados. "A linha de montagem passou a ser muito mais que um arranjo físico de máquinas", disse Nye. "Ela é o centro de um sistema cultural que se estende até muito além dos portões das fábricas." Esse sistema cultural aumentou de maneira explosiva a escala de tudo.
E esse aumento de escala mudou o mundo de uma maneira espetacular. Quando os funcionários da Ford conceberam a linha de montagem, havia menos de 2 bilhões de pessoas no mundo inteiro. Hoje, apenas um século depois, já passamos dos 7 bilhões - um aumento populacional quase inacreditável que só foi possível graças a um espetacular ganho global de produtividade.
A produção de comida, de casas e de bens de consumo aumentou astronomicamente para atender tanta gente. E, mesmo com a explosão populacional, hoje a proporção de pessoas no mundo com acesso a saúde e educação é maior que nunca, graças ao ganho de escala alcançado pelos serviços públicos. A população global produz mais, consome mais, vive mais, sabe mais do que em qualquer outro período da história humana. Esse é o resultado de 100 anos da era da escala. Sob muitos aspectos, foi o maior salto de progresso da história da humanidade. Por que então o mal-estar?
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O século da complexidade

Lembre-se do que Bar-Yam escreveu: todo sistema complexo precisa ter uma estratégia para lidar com escala e outra para a complexidade. A linha de montagem é como o sistema neuromuscular - ótima para escala.
Ela é linear e hierárquica - são os executivos que mandam nos engenheiros, que por sua vez controlam os mecânicos, assim como o cérebro comanda nervos que acionam músculos. Por isso, ela só consegue dar uma resposta de cada vez: um soco no caso do sistema neuromuscular, um carro sempre idêntico no caso da linha de montagem. Nossa sociedade moldada ao longo dos últimos 100 anos à imagem da linha de montagem é ótima para ações de escala, mas não tem flexibilidade alguma para lidar com complexidade. Estamos sem sistema imunológico.
"É fácil ficar pessimista com o mundo de hoje", diz Bar-Yam. Em meio às inúmeras linhas de montagem que dominam a humanidade, parece que toda a complexidade do mundo está fugindo do nosso controle, enquanto nos sentimos impotentes para resolver problemas à nossa volta. É essa a história que o ilustrador Marcio Moreno procurou contar no desenho surreal que percorre estas páginas.
Por todo lado, há exemplos de ações de escala que acabam esmagando a complexidade. Por exemplo: nosso modelo de produção industrial, que aumentou prodigiosamente nossa capacidade de fazer coisas, mas está causando um acúmulo global de lixo e gases de efeito estufa e levando milhares de espécies à extinção e quase todos os ecossistemas ao colapso. Ou nossas tentativas industriais de aumentar a segurança, o que hiperlotou o mundo de regras impossíveis de cumprir e de senhas impossíveis de lembrar.
Ou nossos sistemas de alimentação e saúde, que focaram tanto na escala da produção de alimentos, de maneira a baratear a comida, que a complexidade dos micronutrientes se perdeu. E hoje, pelo visto, estamos pagando o preço, com a explosão das "doenças complexas": males difusos, de causas múltiplas, como câncer, doenças autoimunes, degenerativas e psiquiátricas.
Ou ainda nosso sistema de educação, concebido com uma lógica linear e padronizadora, para formar alunos idênticos, todos com os mesmos conhecimentos. Além de nivelar por baixo, detonando a qualidade da educação, esse modelo padronizador é justamente o contrário do que nosso mundo complexo precisa hoje - gente diversa, capaz de resolver problemas diversos.
Mundo Complexo
Segundo Bar-Yam, desde o tempo das cavernas, sempre que algo começa a pifar porque a complexidade fica grande demais, "temos uma forte tendência de tentar descobrir quem é o responsável. Alguém tem que ser demitido, alguém tem que pagar, alguém tem que ser punido", diz. E aí escolhemos um novo chefe ou criamos uma nova hierarquia para lidar com o problema. Só que hierarquias são péssimas para gerir complexidade. O único jeito de lidar com sistemas complexos é criando estruturas de controle complexas: redes de gente com autonomia de identificar e resolver problemas.
Perguntei a Bar-Yam como o Brasil deveria lidar com nossos frustrantes políticos. Ele respondeu que o problema não é só do Brasil. "Precisamos de um novo tipo de democracia", disse. "Nossa democracia usa o voto para agregar a capacidade de decisão da população. Isso não é eficiente, porque reduz uma grande quantidade de informação (o conhecimento de todos os cidadãos) a um pequeno número de respostas (os seus representantes)". Faria mais sentido imaginar um sistema político mais imunológico, no qual cada cidadão reage com autonomia às ameaças que enxerga, como um glóbulo branco. Política, economia, saúde, educação, sustentabilidade, clima, cidade. Em todo lugar onde há complexidade, parece estar ocorrendo uma espécie de colapso. Mas, assim como aconteceu 100 anos atrás com a linha de montagem respondendo à nossa necessidade de escala, desde a década de 1990, uma série de inovações parece estar surgindo espontaneamente em resposta à nossa necessidade de complexidade. Primeiro veio a internet, que nos conectou em rede, criando uma alternativa para as estruturas hierárquicas. E agora as inovações estão pipocando.
Tem todos os esquemas de compartilhamento de recursos - quartos, casas, carros, bicicletas, ferramentas, espaço para trabalhar - nos ajudando a otimizar o uso de recursos. Tem os moradores que assumem a responsabilidade por cuidar dos espaços públicos e criam praças melhores do que qualquer prefeito seria capaz. Tem os sites de crowdfunding, crowdsourcing e as outras formas de colaboração criativa, que geram um novo modelo de indústria. Tem os aplicativos de trânsito, como o Waze, que dão a cada motorista o poder de encontrar um caminho que flui, o que acaba melhorando o trânsito como um todo. Tem as redes de pacientes de doenças raras, trocando informações pela internet e muitas vezes ajudando uns aos outros mais do que nosso sistema superespecializado de medicina. Tem as manifestações parando as ruas do mundo e forçando os dirigentes políticos a repensarem sua relação com os cidadãos. Tem as grandes empresas, trocando o comando vertical por estruturas de controle mais distribuído.
E, em 2014, o mundo parece estar preparado para uma transformação profunda - possivelmente tão profunda quanto aquela de 1914. Talvez aí essa angústia com a complicação da vida passe. "Quando somos parte de um time complexo, o mundo se torna um lugar notavelmente confortável, porque conseguimos agir de maneira eficaz, ao mesmo tempo em que estamos protegidos da complexidade do mundo", diz Bar-Yam. Enquanto isso não acontece, talvez ajude saber que a origem do problema não está em nós. É o mundo que está organizado errado.


sábado, 11 de abril de 2015

Pessoas acomodadas – como a psicologia explica?

Estou rindo agora por uma situação um pouco esdrúxula. A minha conexão de internet não está pegando no momento (escrevo este texto no LibreOffice Writer). O problema é que, segundo a empresa responsável, está acontecendo falhas na cidade que envia o sinal para São Lourenço, no caso, Três Corações.
Mas o que rio é que como não sei quando o sinal vai voltar, de tempos em tempos volto a tentar abrir uma página, para ver se abre. Rio porque quando estudamos psicologia comportamental aprendemos que dependendo do tipo de reforço, a extinção do comportamento demora mais a ocorrer.
Por exemplo, se eu soubesse quando a internet voltaria, eu não ficaria clicando diversas vezes, de tempos em tempos, para saber se voltou. Mas como não sei quando vai voltar, tento porque em algumas vezes (ontem e hoje) fui bem sucedido ao tentar clicar – a internet tinha voltado.
Este exemplo demonstra – como tantos outros – um princípio importante do nosso comportamento. Nos casos em que o reforço não é por razão fixa, a probabilidade é de que a extinção do comportamento leve mais tempo.
Um outro exemplo talvez torne esta relação entre reforço e extinção mais clara.
Imagine alguém que trabalhe por salário fixo. Todo dia 30, depois de um mês de salário, o funcionário recebe o seu contracheque. Ou seja, o seu reforço – a consequência do comportamento vai fazer aumentar o comportamento, por isso reforço – é positivo. Ele ganha algo, no caso, o dinheiro.
Imagine alguém que recebe apenas comissão por vendas. O reforço no final do mês pode ser maior do que o do assaliarado. Entretanto, o valor não é fixo. Varia de mês para mês. Uma mês é mais alto e no outro é mais baixo.
Agora vamos imaginar uma situação na qual os dois trabalhadores perdem o seu reforço. Vamos supor que o primeiro receba a proposta de apenas continuar na vaga se passar a receber por comissão. Enquanto o segundo vivencia uma fase em que simplesmente não consegue vender nada.
Ambos perderam o seu reforço. O primeiro pode vir a desistir logo da nova estrutura de trabalho. Afinal, não vai mais receber pelo tempo que passa no estabelecimento e sim pelos resultados. O outro, entretanto, vai provavelmente demorar para querer sair porque ele vai começar a imaginar que é apenas uma semana ruim, que esta fase vai passar, que não é uma crise.
Em suma, quando não sabemos quando vamos ter o reforço, acabamos demorando muito mais tempo para desistir do que quando sabemos ou quando o reforço é mais padronizado ou fixo.
Levando a mesma dicotomia para as relações amorosas, percebemos o seguinte: existem relacionamentos nos quais tudo é bom sempre (reforço positivo constante) e existem outros nos quais desde o começo há uma oscilação entre reforços e punições. Uma hora está tudo bem, na outra está tudo mal, brigas, raivas, descontentamento dão lugar à presentes, festas e carinhos e vice-versa.
Nos casos em que o relacionamento é só bom, muitas vezes basta uma única punição para que o relacionamento termine. Pode ser um atraso, um falta, uma falha, uma mentira. Pronto… o que era 100% agradável vira e torna-se 100% desagradável. O término é rápido, embora também possa ser doloroso.
Nos casos em que há uma grande oscilação entre reforços e punições, a tendência é que o término dure meses, quiçá anos ou décadas. O casal se acostuma a ter momentos ruins e, como nenhum sabe quando vai melhorar, acaba esperando que melhore, como aconteceu antes.

Pessoas acomodadas – uma definição

A partir destas situações conseguimos retirar um conceito de acomodação. Uma pessoa acomodada, com sua péssima conexão de internet, com sua situação do trabalho que piora mas a pessoa continua ou com um relacionamento mais ou menos é uma pessoa que se acostumou a ter um certo tipo de consequências do seu comportamento e não espera mais.
Penso que muitos de vocês tem conhecimento do famoso best-seller Quem mexeu no meu queijo. Basicamente, o que a história conta é que a partir da mudança das circunstâncias externas, existem dois tipos de respostas:
- a resposta daquele que fica acomodado, às vezes triste e às vezes raivoso, e permanece no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa;
- a resposta daquele que entende rápido que a situação mudou, ou que há possibilidades melhores, e sai em busca de mudanças.
O livro fez tanto sucesso porque descreve tudo isto através da historinha de alguns ratinhos. O reforço é representado pelo queijo. Dai o título quem mexeu no meu queijo? “Quem foi – o que foi – que eu posso culpar por não ter mais o que quer que seja que me era agradável?” Esta é a pergunta.
Mas cada um vai dar uma resposta, na prática, no comportamento que ou será uma resposta de uma pessoa acomodada ou a resposta de alguém que espera e vai através de mudar o seu comportamento e o seu ambiente.
Eu, por exemplo, vou mudar o meu provedor de internet, rsrs.
Flavio Gikovate
“O Amor que se vai”
Café filosófico Cpfl cultura
São Paulo, 30 de setem
bro de 2009
“Uma das ideias que venho defendendo a mais de 30 anos é a de que sexo e amor não são partes de um mesmo fenômeno, e sim, partes de dois fenômenos, dois mecanismos completamente diferentes, muitas vezes em antagonismo.
O amor, eu defino como sendo o sentimento que a gente tem por aquela pessoa que é muito especifica e muito especial, cuja presença provoca em nós a sensação de paz, aconchego e harmonia. Então amor é, parece ter haver com a primeira experiência de existência de todos nós, ou seja, com a experiência uterina. O amor corresponde a um remédio para a dor do desamparo que nasce no momento em que nós nascemos. Ou seja, vivemos num útero nos primeiros momentos da nossa existência, de lá saímos depois de meses de aconchego, aconchego que é o único registro cerebral, e lá, dentro do útero com a mãe o bebe vive uma situação paradisíaca, digamos assim, usando a metáfora bíblica, e existe depois disso, a expulsão do paraíso, que corresponderia ao nosso momento de big-bang, o momento do nascimento. A partir dessa expulsão do paraíso começa a surgir as dores, os desconfortos e o esta subjetivo correspondente ao desamparo, a uma sensação de desproteção, de insegurança de medo que é exatamente a manifestação visível no rosto de qualquer criança que nasce. A criança nasce com um ar de apavorado com toda razão, ou seja, há uma mudança para a pior, a condição uterina é uma condição maravilhosa, é o paraíso, e o nascimento é a expulsão do paraíso.”
“O amor é parte de um prazer que o Schopenhauer chamava de prazer negativo, ou seja, é uma remédio para a sensação desagradável de desamparo, ou seja, é o prazer que deriva do fim da dor do desamparo, o aconchego é o remédio para o desamparo, por isso é interpessoal, é paz e é um prazer negativo.”

O amor para a psicologia comportamental – Reforço Positivo

Como a psicologia comportamental explica o amor? Neste texto, vamos explicar o conceito de reforço positivo através da psicologia comportamental de Skinner e entender a frase “O que é o amor exceto outro nome para o uso do reforçamento positivo?”
Olá amigos!
Hoje gostaria de conversar com vocês sobre uma frase de B. F. Skinner, na qual ele utiliza um conceito da psicologia comportamental criada por ele para definir o amor. Skinner diz: “O que é o Amor se não outro nome para reforçamento positivo?”
Se formos na fonte original, em inglês, no livro Walden Two, leremos: “What is love except another name for the use of positive reinforcement? Or vice versa”. Portanto, uma tradução mais adequada seria: “O que é o amor exceto outro nome para o uso do reforçamento positivo? Ou vice-versa”. A diferença entre a frase que lemos normalmente em português e esta segunda tradução é pequena e sutil, porém, ela será significativa para entendermos melhor a relação entre o amor e o reforçamento positivo. Para fazê-lo, nós temos que começar pelo entendimento do que é reforçamento positivo, para podermos então, compreender o que é o amor para a psicologia comportamental a partir de Skinner. 

O que é reforçamento positivo?

Em 1938, Skinner cunhou o termo condicionamento operante (operant conditioning), que podemos entender como a mudança comportamental de um organismo pelas consequências inseridas após o seu comportamento.
Assim, quando vamos estudar a história comportamental de um organismo (não só do homem), podemos avaliar o aumento ou a diminuição de um dado comportamento como consequência do que ocorreu após o comportamento ser emitido. Se após o comportamento ser emitido nós introduzimos um estímulo que fará o comportamento aumentar de frequência, nós temos um reforço. Se nós introduzimos um estímulo que fará o comportamento diminuir, nós temos uma punição.
Temos, portanto, 4 tipos de consequências que podem ocorrer após um comportamento e fazê-lo aumentar ou diminuir:
1) Reforçamento positivo
2) Reforçamento negativo
3) Punição positiva
4) Punição negativa
Para memorizar a distinção entre estes 4 tipos, é simples: Reforçamento é o que faz o comportamento aumentar de frequência (a pessoa ou organismo faz mais) e punição é o que faz com que o comportamento diminua (a pessoa ou organismo faz menos). O positivo ou negativo diz respeito apenas a se há a introdução de um estímulo no meio ou se há a retirada de um estímulo.
Por exemplo, quando um pai quer aumentar o comportamento do filho de estudar, pode dar um presente se ele tira um boa nota. O presente provavelmente vai aumentar o comportamento de estudar. Então temos a introdução de um estímulo que fará com que o filho estude mais, ou seja, um reforço positivo.
No reforçamento negativo, nós temos o aumento do comportamento com a retirada de um estímulo aversivo. Por exemplo, se eu estou com dor de cabeça (estímulo aversivo), eu posso tomar um remédio para que a dor cesse. Com aretirada da dor, nós temos o provável aumento do comportamento em uma situação futura – o aumento de tomar um remédio para passar a dor de cabeça.
No livro Ciência e Comportamento Humano, Skinner explica do seguinte modo:
“Os eventos que se verifica serem reforçadores são de dois tipos. Alguns reforços consistem na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa, por exemplo, alimento, água ou contato sexual – à situação. Estes são denominados reforços positivos. Outros consistem na remoção de alguma coisa, por exemplo, de muito barulho, de uma luz muito brilhante, de calor ou de frios extremos ou de um choque elétrico – da situação. Estes se denominam reforçosnegativos. Em ambos os casos o efeito do reforço é o mesmo: a probabilidade da resposta será aumentada” (SKINNER, 2003, p. 81).
Na punição positiva, nós temos a introdução de um estímulo que fará com que o comportamento diminua. É punição porque faz o comportamento diminuir e é positiva porque há a introdução de um estímulo. Se a cada vez que um sujeito disser um cacoete como né, tá ou ok ele receber um tapa na cara, a tendência é que o comportamento de falar o cacoete diminua (punição) com a introdução (positivo) de um estímulo.
E, por fim, na punição negativa, nós temos a retirada de um estímulo que faz com que o comportamento diminua em sua frequência. Se o filho tirar uma nota ruim na escola, o pai pode retirar um estímulo como o celular, o que fará com que o comportamento de tirar notas ruins diminua.
 O amor como uso do reforçamento positivo
Sabemos como é difícil definir o amor. Se formos estudar historicamente, veremos tentativas de definição já no Banquete,de Platão. Este, aliás, seria um excelente livro para começarmos a estudar os diversos tipos de amor. O amor romântico, idealizado, o amor erótico, sexual, o amor entre amigos. Mas passando da filosofia grega para a psicologia comportamental, nós podemos dizer que o amor acontece e permanece como resultado do uso do reforçamento positivo.
Para começarmos a análise da frase de Skinner “O que é o amor exceto outro nome para o uso do reforçamento positivo? Ou vice-versa” e, tendo em vista o que aprendemos no tópico acima, vamos utilizar alguns exemplos.
Qualquer observador atento, verá que uma criança pequena, de 4, 5 anos é bastante interesseira. Como o mundo ainda “gira ao redor do seu umbigo”, ela avalia quem ela gosta mais pelo que ela recebe. Se perguntarmos se ela gosta mais da avó materna ou avó paterna, ela poderá dizer: “Gosto mais da minha avó paterna porque ela me dá mais presentes”. E é até interessante notar como muitos adultos continuam mantendo este padrão egoísta. De toda forma, na formulação de Skinner, nós temos que o amor faz uso do reforço positivo. E esta é uma afirmação simples de entender e simples de observar:
Quando um casal está começando um relacionamento, tudo o que há, praticamente, é reforço positivo. Eles se dão presentes, elogios, carícias. Trocam todo tipo de contatos que são prazersos. E quando começa uma briga?
Uma briga começa quando não há o reforço positivo, seja quando há uma punição positiva (a introdução de um estímulo aversivo) ou a punição negativa (a retirada de um estímulo agradável). Por exemplo, quando há uma crítica (punição positiva) ao invés do elogio (reforço positivo), quando não há resposta no whatsapp (punição negativa) ao invés da resposta imediata (reforço positivo).
Eu peguei o exemplo de um começo de um relacionamento porque fica mais claro que quase tudo gira em volta do reforçamento positivo. Além dos comportamentos observáveis, temos que levar em conta o que a neurociência vem descrevendo sobre as substâncias do amor. Quando uma pessoa se apaixona, há a liberação de “substâncias do amor”, que, é claro, vão influenciar também o comportamento.
Com a gradual diminuição destas substâncias, a paixão diminui. Mas o reforçamento positivo, seja em que razão for, não precisa diminuir. Se não diminui, encontramos os relacionamentos duradouros que, apesar do tempo, continuam tão estimulantes quanto no início.
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