sábado, 11 de abril de 2015

Pessoas acomodadas – como a psicologia explica?

Estou rindo agora por uma situação um pouco esdrúxula. A minha conexão de internet não está pegando no momento (escrevo este texto no LibreOffice Writer). O problema é que, segundo a empresa responsável, está acontecendo falhas na cidade que envia o sinal para São Lourenço, no caso, Três Corações.
Mas o que rio é que como não sei quando o sinal vai voltar, de tempos em tempos volto a tentar abrir uma página, para ver se abre. Rio porque quando estudamos psicologia comportamental aprendemos que dependendo do tipo de reforço, a extinção do comportamento demora mais a ocorrer.
Por exemplo, se eu soubesse quando a internet voltaria, eu não ficaria clicando diversas vezes, de tempos em tempos, para saber se voltou. Mas como não sei quando vai voltar, tento porque em algumas vezes (ontem e hoje) fui bem sucedido ao tentar clicar – a internet tinha voltado.
Este exemplo demonstra – como tantos outros – um princípio importante do nosso comportamento. Nos casos em que o reforço não é por razão fixa, a probabilidade é de que a extinção do comportamento leve mais tempo.
Um outro exemplo talvez torne esta relação entre reforço e extinção mais clara.
Imagine alguém que trabalhe por salário fixo. Todo dia 30, depois de um mês de salário, o funcionário recebe o seu contracheque. Ou seja, o seu reforço – a consequência do comportamento vai fazer aumentar o comportamento, por isso reforço – é positivo. Ele ganha algo, no caso, o dinheiro.
Imagine alguém que recebe apenas comissão por vendas. O reforço no final do mês pode ser maior do que o do assaliarado. Entretanto, o valor não é fixo. Varia de mês para mês. Uma mês é mais alto e no outro é mais baixo.
Agora vamos imaginar uma situação na qual os dois trabalhadores perdem o seu reforço. Vamos supor que o primeiro receba a proposta de apenas continuar na vaga se passar a receber por comissão. Enquanto o segundo vivencia uma fase em que simplesmente não consegue vender nada.
Ambos perderam o seu reforço. O primeiro pode vir a desistir logo da nova estrutura de trabalho. Afinal, não vai mais receber pelo tempo que passa no estabelecimento e sim pelos resultados. O outro, entretanto, vai provavelmente demorar para querer sair porque ele vai começar a imaginar que é apenas uma semana ruim, que esta fase vai passar, que não é uma crise.
Em suma, quando não sabemos quando vamos ter o reforço, acabamos demorando muito mais tempo para desistir do que quando sabemos ou quando o reforço é mais padronizado ou fixo.
Levando a mesma dicotomia para as relações amorosas, percebemos o seguinte: existem relacionamentos nos quais tudo é bom sempre (reforço positivo constante) e existem outros nos quais desde o começo há uma oscilação entre reforços e punições. Uma hora está tudo bem, na outra está tudo mal, brigas, raivas, descontentamento dão lugar à presentes, festas e carinhos e vice-versa.
Nos casos em que o relacionamento é só bom, muitas vezes basta uma única punição para que o relacionamento termine. Pode ser um atraso, um falta, uma falha, uma mentira. Pronto… o que era 100% agradável vira e torna-se 100% desagradável. O término é rápido, embora também possa ser doloroso.
Nos casos em que há uma grande oscilação entre reforços e punições, a tendência é que o término dure meses, quiçá anos ou décadas. O casal se acostuma a ter momentos ruins e, como nenhum sabe quando vai melhorar, acaba esperando que melhore, como aconteceu antes.

Pessoas acomodadas – uma definição

A partir destas situações conseguimos retirar um conceito de acomodação. Uma pessoa acomodada, com sua péssima conexão de internet, com sua situação do trabalho que piora mas a pessoa continua ou com um relacionamento mais ou menos é uma pessoa que se acostumou a ter um certo tipo de consequências do seu comportamento e não espera mais.
Penso que muitos de vocês tem conhecimento do famoso best-seller Quem mexeu no meu queijo. Basicamente, o que a história conta é que a partir da mudança das circunstâncias externas, existem dois tipos de respostas:
- a resposta daquele que fica acomodado, às vezes triste e às vezes raivoso, e permanece no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa;
- a resposta daquele que entende rápido que a situação mudou, ou que há possibilidades melhores, e sai em busca de mudanças.
O livro fez tanto sucesso porque descreve tudo isto através da historinha de alguns ratinhos. O reforço é representado pelo queijo. Dai o título quem mexeu no meu queijo? “Quem foi – o que foi – que eu posso culpar por não ter mais o que quer que seja que me era agradável?” Esta é a pergunta.
Mas cada um vai dar uma resposta, na prática, no comportamento que ou será uma resposta de uma pessoa acomodada ou a resposta de alguém que espera e vai através de mudar o seu comportamento e o seu ambiente.
Eu, por exemplo, vou mudar o meu provedor de internet, rsrs.

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